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Benefícios da medicina canabinoide no tratamento da fibromialgia

A fibromialgia é uma das síndromes de dor crônica mais recorrente no mundo, caracterizada por dor muscular intensa e fadiga. Estimativas indicam uma prevalência no Brasil em cerca de 3%, sendo a população feminina na faixa etária de 30 a 55 anos, a mais afetada.

 

Além de causar dor, com o passar do tempo a fibromialgia pode gerar transtornos relacionados ao sono, humor e também sintomas psicológicos, como ansiedade e depressão. A fibromialgia é uma síndrome que pode se tornar incapacitante se não tratada, impedindo que a paciente realize tarefas simples do seu cotidiano.

 

Fibromialgia

 

A fisiopatologia da fibromialgia ainda não foi totalmente esclarecida e é fonte de forte debate entre cientistas. Estudos científicos sugerem que o processamento da dor no cérebro é alterado em pacientes portadores da doença, especialmente devido a uma maior ativação em áreas cerebrais envolvidas com esse tipo de estímulo. 

 

Isso significa que pacientes com fibromialgia são mais sensíveis a estímulos dolorosos, e que, mesmo estímulos pequenos, são capazes de ativar regiões do cérebro com igual intensidade a estímulos maiores. Essa hipersensibilidade pode ser explicada por um excesso de neurotransmissores excitatórios no sistema nervoso central, ativando circuitos neurais importantes para o processamento da dor. 

 

Assim como no cérebro, essa hipersensibilidade também pode ocorrer em nervos periféricos. Uma hipótese recente é que a ativação do sistema imunológico pode ser capaz de alterar a excitabilidade de vias periféricas da dor.

 

Existem outras teorias que também ajudam a explicar a fibromialgia, no entanto, tem sido difícil identificar com exatidão as causas dessas alterações. O que fica claro é que mais de um fator parece influenciar no desenvolvimento da síndrome. Em geral atribui-se a questão genética como um fator preponderante devido ao extenso número de relatos de casos em que há histórico familiar da doença. Acredita-se também que fatores ambientais possam influenciar, mas ainda faltam estudos para uma melhor caracterização.

 

Cannabis medicinal e sua relação com a dor

 

O uso da Cannabis no tratamento da dor vem sendo estudado a um bom tempo e, hoje, sabe-se que os canabinoides agem simultaneamente em vários alvos celulares da dor em nosso organismo, tanto perifericamente quanto ao nível central.

 

Estudos pré-clínicos apontam que o canabidiol (CBD) parece ser uma alternativa atraente para o tratamento da dor crônica. Além de atuar nos receptores canabinóides CB1/CB2, o CBD pode modular a dor através da interação com o receptor GPR55 e outros bem conhecidos, como os receptores opióides ou de serotonina. Outros estudos identificaram também a ação em receptores do tipo TRPV1 e PPAR. Todos esses receptores são conhecidos por suas ações no controle da dor, e representam potencialmente alvos terapêuticos.

 

Além disso, o CBD pode atuar de forma sinérgica com outro canabinoide, o THC, e contribuir para o efeito analgésico da cannabis medicinal. O THC (ou tetrahidrocanabinol) é um dos principais compostos presentes na cannabis e possui ação como um agonista parcial do receptor CB1, produzindo uma variedade de efeitos na cognição, função motora, analgesia e efeitos psicotrópicos. O CBD exibe um efeito de entourage (o mecanismo pelo qual os compostos não psicoativos presentes na cannabis modulam os efeitos gerais da planta) e é capaz de melhorar a tolerabilidade e a segurança do THC.

 

Canabidiol: uma alternativa para o tratamento da fibromialgia

 

O tratamento da dor aguda é bem estabelecido na medicina atual, onde há a disponibilidade de diversos fármacos analgésicos e anti-inflamatórios para serem utilizados na terapêutica. No entanto, quando falamos de dor crônica, as opções são bem mais limitadas e muitas vezes ineficazes.

 

A fibromialgia não possui cura e o tratamento tem o objetivo de aliviar a sintomatologia e melhorar a qualidade de vida da paciente. Em geral, são utilizados fármacos antidepressivos, gabapentinoides, ansiolíticos e relaxantes musculares.  No entanto, estes medicamentos apresentam efeitos adversos que dificultam a adesão do paciente ao tratamento, além de apresentarem efeitos modestos no alívio dos sintomas.

 

Nesse sentido, a medicina canabinoide tem contribuído cada vez mais para melhorar as estratégias terapêuticas da fibromialgia. Um estudo de revisão clínica publicado na revista JAMA concluiu que a utilização da cannabis para o tratamento da dor crônica é apoiada por evidências científicas. Neste trabalho, foram avaliados diversos estudos que incluíram pacientes portadores de dor crônica, dor neuropática ou esclerose múltipla. Na maioria destes ensaios clínicos, observaram-se resultados positivos, sugerindo que, principalmente o CBD, pode ser um tratamento eficaz para essas indicações.

 

Em 2021, foi publicado outro estudo científico conduzido por pesquisadores da Universidade de Michigan, que descobriram que 32% dos pacientes portadores de fibromialgia já utilizam o óleo de CBD e apresentavam melhora significativa em diferentes aspectos da doença. Este estudo é um importante passo para que a comunidade médica discuta sua utilização nesse tipo de doença. No entanto, é necessário destacar a importância da realização de mais estudos clínicos para entender o real valor terapêutico do CBD.

 

O THC também é eficaz no tratamento da fibromialgia!

 

Um estudo brasileiro publicado em 2020 na revista Pain Medicine (Oxford Academy) realizou um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado por placebo em pacientes mulheres portadoras de fibromialgia. Neste trabalho, o grupo de pesquisa objetivou determinar o benefício da utilização de um óleo de cannabis rico em THC nos sintomas e na qualidade de vida das pacientes.

 

A dose inicial utilizada na pesquisa foi de uma gota contendo, em média, 1,22 mg de THC e 0,02 mg de canabidiol (CBD) por dia, com aumentos subsequentes de acordo com a evolução da sintomatologia. 

 

Os resultados mais impactantes foram à redução na pontuação de scores utilizados para avaliar o impacto da fibromialgia nas pacientes submetidas ao tratamento com o óleo. Ou seja, a utilização do óleo melhorou a qualidade de vida, os níveis de percepção da dor e a fadiga das pacientes, sem apresentar efeitos colaterais. 

 

É importante destacar que neste estudo, o principal ativo analisado foi o THC. Apesar do THC possuir efeitos psicoativos, esta evidência traz a tona mais uma vez a discussão a respeito dos potenciais benefícios terapêuticos dessa substância. Neste trabalho, os cientistas conseguiram obter efeitos terapêuticos com baixas dosagens de THC, não resultando significativamente em efeitos psicoativos nas pacientes. No entanto, o grupo de pesquisa alerta que mais estudos são necessários para avaliar a terapia em longo prazo.

 

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Referência:

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Chaves, C., Bittencourt, P. C. T., & Pelegrini, A. (2020). Ingestion of a THC-rich cannabis oil in people with fibromyalgia: a randomized, double-blind, placebo-controlled clinical trial. Pain Medicine.
 
Hill, K. P. (2015). Medical marijuana for treatment of chronic pain and other medical and psychiatric problems: a clinical review. Jama.
 
Sarzi-Puttini, P., Giorgi, V., Marotto, D. et al. (2020). Fibromyalgia: an update on clinical characteristics, aetiopathogenesis and treatment. Nat Rev Rheumatol.
 
van de Donk, T., Niesters, M., Kowal, M. A., Olofsen, E., Dahan, A., & van Velzen, M. (2019). An experimental randomized study on the analgesic effects of pharmaceutical-grade cannabis in chronic pain patients with fibromyalgia. Pain.
 
Vučković, S., Srebro, D., Vujović, K. S., Vučetić, Č., & Prostran, M. (2018). Cannabinoids and Pain: New Insights From Old Molecules. Frontiers in pharmacology.

 

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