Entre os objetivos do cuidado paliativo descritos pela OMS estão o alívio da dor e outros sintomas estressores, e a melhora da qualidade de vida (356).
A integração da cannabis no grupo de medicações mais utilizadas deve ser feita com extremo cuidado, no entanto, seu uso parece estar ganhando espaço no tratamento paliativo onde o foco é a escolha individualizada e autonomia do paciente (357).
Apesar disso, avaliar a efetividade da cannabis como um tratamento viável no contexto paliativo requer uma análise cuidadosa de seus efeitos em várias condições.
Tais evidências ainda não são abundantes e necessitamos mais estudos (358). Além disso, enquanto a prescrição de canabinoides demonstra um perfil de segurança em estudos, seu uso terapêutico é restrito devido aos efeitos psicotrópicos (21,209,359).
Certas populações de pacientes (idosos sofrendo de doença psiquiátrica prévia) podem ser mais suscetiveis à experimentar efeitos psicotrópicos , cognitivos ou outros (359,60)
A evidência até agora sugere que a cannabis e a prescrição de canabinóides (dronabinol, nabilone) pode ser útil no alívio de diversos sintomas agudos ou recorrentes, comuns no cuidado paliativo. Esses sintomas incluem náusea não tratável, vômitos associados com quimioterapia ou radioterapia, anorexia, caquexia, dor não tratável, humor deprimido e insônia (208, 209).
O uso de canabinóides no cuidado paliativo pode resultar numa diminuição da polifarmácia dos pacientes(208).
Para informações acerca do uso de cannabis/canabinóide na náuse a evômito, veja a seção 4.2 desse documento. Para informação sobre o uso na anorexia do HIV, veja as seções 4.3.1 e 4.3.2
Qualidade de Vida
Um grupo de estudos usou scores de qualidade de vida padronizados para analisar se o uso de cannabis ou canabinóides (nabilone, dronabinol e nabiximol) está associado com a melhora da qualidade de vida. Os estudos mostraram resultados mistos. A evidência destes estudos é resumida abaixo.
Estudos clínicos com dronabinol
Um estudo randomizado, duplo cego, controlado por placebo de dronabinol (dose máxima 10mg de Δ 9 –THC/dia por 3 semanas) para o tratamento de dor neuropática central em pacientes com esclerose múltipla reportou melhoras significantes na qualidade de vida (questionário SF -36/ medições da dor corporal e saude mental) (361)
Um estudo em dois centros, em fase 2, randomizado, duplo cego, controlado por placebo durando 22 dias analisou pacientes adultos sofrendo alterações quimiossensórias (alterações no olfato e na gustação) e diminuição de apetite associado com câncer avançado de diversas etiologias reportou uma melhora da percepção quimiossensorial entre pacientes que usaram dronabinol (2.5 mg ) comparou com àqueles recebendo placebo (362).
A maioria (73%) dos pacientes tratados com dronabinol reportaram uma melhora na apreciação da comida comparada àqueles recebendo placebo (30%). Enquanto os escores globais da Análise Funcional de Terapia da Anorexia-Caquexia melhoraram em grupos que usaram dronabinol em relação ao placebo (362).
Melhoras significantes estatisticamente foram notadas na qualidade de sono e relaxamento com o uso de dronabinol em relação ao placebo (362). De acordo com os autores do estudo, efeitos psicoativos negativos foram minimizados em pacientes utilizando baixa dose (2.5mg uma vez ao dia por 3 dias) seguido de escalonamento gradual de dose (até 7.5 mg de dronabinol por dia ) (362)
Estudos clínicos com extrato de Cannabis
Um estudo multicentrado, fase 3, randomizado, duplo cego, controlado por placebo, em três braços, palalelo em pacientes adultos com câncer incurável e sofrendo de anorexia-caquexia síndrômica concluiu que nem o extrato de cannabis (2.5mg Δ9 –THC, 1mg de CBD, , por 6 semanas ) nem o THC (2.5 mg Δ9 –THC por 6 semanas) puderam prover qualquer benefício significativo comparado ao placebo nas medições de qualidade de vida (363)
Estudos clínicos com Nabilone
Um estudo randomizado, duplo cego , controlado por placebo de nabilone em pacientes sofrendo de fibromialgia reportou que a terapia adjuvante de nabilone (4 semanas, dose máxima de tratamento de 1mg) foi associada com uma melhora significante nas medidas de qualidade de vida (353).
Um estudo enriquecido por alistamento, randomizado, com dose flexivel, duplo cego, controlado por placebo, analisou a eficácia do nabilone como adjuvante no tratamento de pacientes com dor neuropática em pacientes diabéticos mostrou melhoras na qualidade de vida (Index Score Composto EQ-5D) e melhora no status geral dos pacientes comparado ao placebo (364). Doses de nabilone entre 1 e 4mg/dia, duração de tratamento era de 5 semanas.
Estudos clínicos com Nabiximol
Um estudo de 10 semanas, prospectivo, randomizado, duplo cego, controlado por placebo acerca da segurança e efetividade do nabiximol (Sativex) como medicação adjunta no tratamento da neuropatia diabetica intratável concluiu que o nabiximol falhou em mostrar melhoras na qualidade de vida (365).
Um estudo duplo cego, de 12 semanas, randomizado, controlado por placebo, enriquecido por alistamento estudou o nabiximol como uma terapia adicional em pacientes com espasticidade refratária, porém sem diferença em relação ao placebo na qualidade de vida (366).
Um estudo de 5 semanas, multi centrico, randomizado, duplo cego, controlado por placebo com grupos paralelos e dose-graduado avaliou a eficácia analgésica e sua segurança em pacientes com dor cronica oncológica refratária ao opióide (349).
O estudo reportou a falta de qualquer melhora na qualidade de vida no tratamento mesmo com o uso de dose máxima ( 11-16 sprays/dia) (349).
Estudos Clínicos com Cannabis Fumada
Um estudo randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, de quatro períodos, com análise de cannabis fumada no tratamento da dor neuropática crônica (etiologia crônica pós-traumática ou pós-cirúrgica) concluiu que a inalação de cannabis fumada (25 mg de A cannabis contendo 2,5, 6,0 ou 9,4% de Δ9 -THC,por cinco dias) não foi associada a uma diferença significativa em comparação com placebo nas medidas de qualidade de vida (EQ-5Dquestionário ) (172).
Em contraste, um estudo transversal examinando os benefícios associados ao uso de cannabis em pacientes com fibromialgia relatou um benefício estatístico no escore de saúde mental do questionário de qualidade de vida SF36 em pacientes que usaram cannabis em comparação com não usuários (158 ).
No entanto, não houve diferenças significativas entre os usuários de cannabis e não-cannabis nos outros parametros do SF 36, no no Questionário de Impacto da Fibromialgia.
Um estudo preliminar observacional, aberto, prospectivo, de braço único em um grupo de 13 pacientes que sofrem de doença de Crohn ou colite ulcerativa relataram que o tratamento com cannabis inalada durante um período de três meses melhorou a qualidade de vida dos pacientes, causou um aumento estatisticamente significativo no peso dos indivíduos e melhorando a ação clínica da doença.(189)
índice em pacientes com doença de Crohn (189). Os pacientes relataram uma melhora estatisticamente significativa na percepção de seu estado geral de saúde, sua capacidade de realizar atividades diárias e sua capacidade de manter vida social (189). Os pacientes também relataram uma redução estatisticamente significativa na dor física, bem como melhora do stress mental(189).
Lista das Referências