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Estudos apontam que a ansiedade é um dos transtornos mentais mais prevalentes em jovens, especialmente crianças e adolescentes [1].
Diversos fatores podem estar relacionados para o desenvolvimento de crises de ansiedade, como estresse rotineiro, ocorrência de eventos traumáticos, doença grave, entre outros. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as ocorrências de transtornos de ansiedade aumentaram de forma significativa nos últimos anos, principalmente, durante a pandemia de Covid-19.
Atualmente, o tratamento da ansiedade é baseado na terapia cognitivo-comportamental e no uso de medicamentos, especialmente os inibidores da receptação de serotonina (fluoxetina, escitalopram, entre outros).
No entanto, apesar destes medicamentos apresentarem relativa eficácia no tratamento, uma parcela dos pacientes pode apresentar efeitos colaterais, enquanto outros não respondem de forma satisfatória.
Transtornos de ansiedade tem potencial altamente incapacitante em jovens, sendo fundamental a busca e desenvolvimento de alternativas terapêuticas adjuvantes para aumentar o sucesso terapêutico.
A cannabis medicinal como opção promissora para o tratamento de transtornos mentais
Devido ao crescimento no número de casos de transtornos mentais, cada vez mais a ciência busca inovações em termos de tratamentos. E nesse ponto, derivados canabinoides surgem como uma opção bastante promissora a ser investigada.
O canabidiol (CBD), um dos compostos canabinoides encontrados na cannabis, tem recebido relativo destaque quanto a suas propriedades medicinais relacionadas à saúde mental. Segundo pesquisas científicas, o CBD é eficaz no tratamento de sintomas em casos de epilepsia refratária [4,5]. Atualmente seu uso foi aprovado pelo FDA (a agência regulatória americana), para tratamento de crianças portadoras de Síndrome de Dravet, um tipo raro e grave de epilepsia em crianças.
Estudo pré-clínicos em roedores demonstram que o CBD também pode ser eficaz no tratamento de transtornos de ansiedade. Estas evidências científicas fortalecem o uso desta substância como estratégia terapêutica em casos de ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos de estresse pós-traumático [3].
Em humanos, as evidências são mais escassas. Apenas alguns poucos estudos foram realizados, utilizados amostras populacionais pequenas. Em um estudo randomizado e controlado em adolescentes que apresentavam sintomas de ansiedade social, a utilização do CBD em doses de 300mg/dia durante 4 semanas reduziu de forma moderada a gravidade dos sintomas [6].
O CBD pode ser eficaz para jovens com ansiedade resistente ao tratamento
Em um recente estudo piloto aberto, pesquisadores descobriram que a utilização do CBD pode reduzir a gravidade dos sintomas após 12 semanas de tratamento em pacientes jovens diagnosticados com ansiedade crônica [2].
Nesta pesquisa, foram avaliados 31 jovens com idade de 12 a 25 anos, mas com características comuns de transtorno de ansiedade grave e resistente às terapias de primeira escolha. O CBD isolado foi administrado oralmente como terapia adjuvante aos medicamentos já utilizados.
Foram utilizadas doses iniciais de 200mg/dia de CBD, que foi aumentada para 400mg/dia após uma semana. Em pacientes que não obtiveram resposta significativa, a dose diária foi aumentada para até no máximo 800mg/dia.
De maneira geral, os pacientes apresentaram melhoras nos sintomas, apresentando menor frequência de ataques de pânico. Além disso, relataram ser capazes de executar tarefas que antes não conseguiam como ir à escola ou comer em um restaurante.
Para avaliação dos resultados, foram utilizadas escalas de avaliação clínica e de auto avaliação. Em ambas, os resultados foram de uma redução na gravidade dos sintomas superior a 40%. Além disso, não foram encontrados eventos adversos graves entre os participantes do estudo.
Estes são resultados muito promissores que sugerem o CBD como uma alternativa terapêutica adjuvante viável e segura para tratamento de casos de ansiedade grave, especialmente em pacientes resistentes aos tratamentos convencionais.
No entanto, por se tratar de um estudo aberto, novos estudos serão necessários de forma a incluir um ambiente amostral mais controlado e randomizado. Além disso, serão realizados ensaios em grupos maiores de pessoas para definir com mais precisão os benefícios do CBD no tratamento da ansiedade.
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Referências:
[1] Beesdo, K., Knappe, S., & Pine, D. S. (2009). Anxiety and anxiety disorders in children and adolescents: developmental issues and implications for DSM-V. Psychiatric Clinics, 32(3), 483-524. doi: 10.1016/j.psc.2009.06.002
[2] Berger, M., Li, E., Rice, S., Davey, C. G., Ratheesh, A., Adams, S., … & Amminger, G. P. (2022). Cannabidiol for Treatment-Resistant Anxiety Disorders in Young People: An Open-Label Trial. The Journal of Clinical Psychiatry, 83(5), 42111. doi: 10.4088/JCP.21m14130
[3] Blessing, E. M., Steenkamp, M. M., Manzanares, J., & Marmar, C. R. (2015). Cannabidiol as a potential treatment for anxiety disorders. Neurotherapeutics, 12(4), 825-836. doi: 10.1007/s13311-015-0387-1
[4] Devinsky, O., Cross, J. H., Laux, L., Marsh, E., Miller, I., Nabbout, R., … & Wright, S. (2017). Trial of cannabidiol for drug-resistant seizures in the Dravet syndrome. New England Journal of Medicine, 376(21), 2011-2020. doi: 10.1056/NEJMoa1611618
[5] Devinsky, O., Marsh, E., Friedman, D., Thiele, E., Laux, L., Sullivan, J., … & Cilio, M. R. (2016). Cannabidiol in patients with treatment-resistant epilepsy: an open-label interventional trial. The Lancet Neurology, 15(3), 270-278. doi: 10.1016/S1474-4422(15)00379-8
[6] Masataka, N. (2019). Anxiolytic effects of repeated cannabidiol treatment in teenagers with social anxiety disorders. Frontiers in psychology, 2466.doi: 10.3389/fpsyg.2019.02466
