A enxaqueca crônica constitui um distúrbio neurológico incapacitante, afetando cerca de 1 a 2% da população mundial e é considerada a 6ª principal causa de incapacidade global [1].
Os medicamentos para enxaqueca aguda mais frequentemente usados incluem analgésicos, como anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e triptanos. Infelizmente, embora seja a única classe de medicamentos desenvolvida exclusivamente para enxaqueca, 25% dos pacientes não respondem a esses últimos [3].
Isso confere uma grande necessidade para o desenvolvimento de terapias adjuvantes específicas para enxaqueca, tanto para o tratamento agudo quanto para a prevenção. Nesta direção, nos últimos anos a cannabis medicinal tem ganhado destaque pelo seu uso no tratamento da dor crônica em pacientes que sofrem com enxaqueca.
O sistema endocanabinoide e a dor
As vias neurobiológicas dos canabinoides estão associadas à inflamação e processos de dor, e estão envolvidas nas regulações de processos fisiológicos em praticamente todos os sistemas orgânicos [4].
Dentro dos principais sistemas endógenos de circuitos de dor, o sistema endocanabinóide parece funcionar tanto de forma independente como sinérgica, ligando-se a outros alvos moleculares [5].
Na enxaqueca, dados clínicos e pré-clínicos sugerem uma função anormal do sistema endocanabinóide, e em pacientes com enxaqueca crônica, as concentrações de anandamida (AEA) no líquido cefalorraquidiano (LCR) foram significativamente mais baixas, assim como as concentrações de palmitoiletanolamida (PEA) foram significativamente maiores em comparação com pacientes com cefaleia sem enxaqueca e controles [6].
Além disso, níveis reduzidos de enzimas degradadoras de AEA foram encontrados em plaquetas de pacientes com enxaqueca crônica [7].
Em modelos animais de enxaqueca, a administração de AEA diminuiu o comportamento hiperalgésico, e o (-)-Δ9-trans-tetraidrocanabinol (THC) derivado de plantas mostrou efeitos que combatem a enxaqueca em ratos [8, 9].
O uso de canabinoides como profilaxia/tratamento para enxaqueca crônica e cefaleias
Em 2016, a revista Pharmacotherapy publicou um estudo sobre o uso de cannabis medicinal para enxaqueca. Os pesquisadores descobriram que das 48 pessoas entrevistadas, 39,7% relataram menos episódios de enxaqueca [10].
Outro estudo, publicado na revista J Headache Pain, analisou 2.032 pessoas com enxaqueca, dor de cabeça, artrite ou dor crônica como sintoma ou doença principal. A maioria dos participantes conseguiu substituir seus medicamentos prescritos, normalmente opioides ou opiáceos, por cannabis [11].
Em outro estudo, pesquisadores avaliaram o uso de canabinoides como profilaxia e tratamento agudo para enxaqueca crônica e cefaleia em salvas crônicas [12]. A cefaleia em salvas é uma dor intensa de um lado da cabeça, localizada na têmpora ou em volta do olho, que dura pouco tempo (em torno de 30 minutos).
Neste estudo, os pacientes receberam uma combinação de dois compostos: um com 19% de THC e o outro contendo uma combinação de 0,4% de THC + 9% de CBD [12].
Na fase 1, a determinação da dose efetiva foi realizada com um grupo de 48 voluntários com enxaqueca crônica, iniciando com uma dose oral de 10 mg da combinação e tituladas.
Como resultados, os autores observaram que doses inferiores a 100 mg não produziram benefício. Doses orais de 200 mg administradas durante uma crise de enxaqueca diminuíram a intensidade da dor aguda em 55% [12].
Na fase 2, pacientes com enxaqueca crônica (n = 79) foram aleatoriamente designados para tratamento profilático de 3 meses com amitriptilina 25 mg por dia ou THC + CBD 200 mg por dia em uma emulsão de 200 mL com 50% de gordura.
Pacientes com cefaleia em salvas crônicas (n = 48) foram designados para um mês de tratamento profilático com verapamil 480 mg por dia ou THC + CBD 200 mg. Para ataques de dor aguda, a dosagem adicional de THC + CBD 200 mg foi permitida em ambos os grupos [12].
Nos pacientes com enxaqueca, a profilaxia THC + CBD 200 mg levou a uma melhora de 40,4% em relação a 40,1% com amitriptilina. A dosagem aguda adicional de THC + CBD 200 mg diminuiu a intensidade da dor em pacientes com enxaqueca em 43,5% [12].
Diminuição da frequência da enxaqueca após tratamento prolongado com cannabis medicinal
Num estudo publicado na revista Brain Sciences, os autores realizaram um estudo transversal, onde avaliaram os relatos dos pacientes sobre a frequência de ataques de enxaqueca, pré e pós-tratamento da cannabis medicinal [13].
Este estudo avaliou 145 pacientes (97 mulheres, 67%), com uma duração mediana de tratamento com a cannabis medicinal de três anos, foram analisados. Os participantes eram pacientes com enxaqueca licenciados para tratamento com a cannabis.
Os dados incluíram questionários autorrelatados e os pacientes foram classificados como respondedores se relataram redução superior a 50% nos ataques mensais de enxaqueca após o tratamento com a cannabis medicinal.
Em comparação com os não respondedores, os respondedores (n = 89, 61%) relataram menor incapacidade atual pela enxaqueca e menor impacto negativo, assim como consumo menor de opioides e triptanos.
Esses achados indicam que o tratamento com a cannabis medicinal resulta em redução em longo prazo da frequência da enxaqueca em mais de 60% dos pacientes tratados e está associada a menos incapacidade e menor ingestão de medicamentos contra a enxaqueca.
Em suma, há evidências acumuladas para vários benefícios terapêuticos da cannabis/canabinoides, especialmente para o tratamento da dor, que também pode se aplicar ao tratamento de enxaqueca e dor de cabeça.
Esses resultados podem lançar luz sobre os efeitos benéficos da cannabis medicinal na enxaqueca e motivar estudos futuros.
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Referência:
[1] GBD 2015 Neurological Disorders Collaborator Group. Global, regional, and national burden of neurological disorders during 1990-2015: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015. Lancet Neurol. 2017; 16:877-897.
[2] Rice AS, Smith BH, Blyth FM. Pain and the global burden of disease. Pain. 2016; 157:791-796.
[3] Diener HC, Limmroth V. Advances in pharmacological treatment of migraine. Expert Opin Investig Drugs. 2001; 10:1831-1845.
[4] Baron EP. Medicinal Properties of Cannabinoids, Terpenes, and Flavonoids in Cannabis, and Benefits in Migraine, Headache, and Pain: An Update on Current Evidence and Cannabis Science. Headache. 2018 Jul;58(7):1139-1186. doi: 10.1111/head.13345. PMID: 30152161.
[5] Mallat A, Teixeira-Clerc F, Deveaux V, Manin S, Lotersztajn S. The endocannabinoid system as a key mediator during liver diseases: new insights and therapeutic openings. Br J Pharmacol. 2011; 163:1432-1440.
[6] Sarchielli, P.; Pini, L.A.; Coppola, F.; Rossi, C.; Baldi, A.; Mancini, M.L.; Calabresi, P. Endocannabinoids in Chronic Migraine: CSF Findings Suggest a System Failure. Neuropsychopharmacology 2007, 32, 1384–1390.
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[8] Greco, R.; Mangione, A.S.; Sandrini, G.; Maccarrone, M.; Nappi, G.; Tassorelli, C. Effects of anandamide in migraine: Data from an animal model. J. Headache Pain 2011, 12, 177–183.
[9] Kandasamy, R.; Dawson, C.T.; Craft, R.M.; Morgan, M.M. Anti-migraine effect of D9-tetrahydrocannabinol in the female rat. Eur. J. Pharmacol. 2018, 818, 271–277.
[10] Rhyne DN, Anderson SL, Gedde M, Borgelt LM. Effects of Medical Marijuana on Migraine Headache Frequency in an Adult Population. Pharmacotherapy. 2016 May;36(5):505-10. doi: 10.1002/phar.1673. Epub 2016 Jan 9. PMID: 26749285.
[11] Baron EP, Lucas P, Eades J, Hogue O. Patterns of medicinal cannabis use, strain analysis, and substitution effect among patients with migraine, headache, arthritis, and chronic pain in a medicinal cannabis cohort. J Headache Pain. 2018 May 24;19(1):37. doi: 10.1186/s10194-018-0862-2. PMID: 29797104; PMCID: PMC5968020.
[12] Nicolodi M, Sandoval V, Terrine A, Therapeutic use of cannabinoids – Dose Finding, Effects, and Pilot Data of Effects in Chronic Migraine and Cluster Headache. Abstract presentation at 3rd Congress of the European Academy of Neurology (EAN), Amsterdam, 6/24/17.
[13] Aviram J, Vysotski Y, Berman P, Lewitus GM, Eisenberg E, Meiri D. Migraine Frequency Decrease Following Prolonged Medical Cannabis Treatment: A Cross-Sectional Study. Brain Sci. 2020 Jun 9;10(6):360. doi: 10.3390/brainsci10060360. PMID: 32526965; PMCID: PMC7348860.