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O Estudo
De acordo com pesquisas realizadas em nível global, a dor é uma das condições que mais levam pacientes a se tratarem com cannabis medicinal. Em 2017, uma revisão das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina (NASEM) e a European Pain Federation descobriram que a base de evidências da eficácia para a Dor Neuropática Central (CNP) é substancial. O estudo apresentado aqui se concentra exclusivamente nesta área para diminuir a complexidade da dor crônica.
Os dados disponíveis até o momento sugerem que o uso de canabinoides medicinais para dor crônica é relativamente seguro, com pouca evidência para o aumento do risco de eventos adversos graves, para o gerenciamento de CNP em adultos, criando um modelo de análise de decisão multicriterial (MCDA).
O modelo compara essas formulações de canabinóides com outras drogas para a mesma condição médica, comparando seus perfis de benefício-segurança, usando um processo de decisão coletiva de especialistas, juntamente com análises de sensibilidade.
Os participantes vão desde médicos da dor com e sem experiência em prescrição de CBMPs do Reino Unido, Dinamarca, Israel e Alemanha, psiquiatras, um neurologista, pesquisadores com experiência em farmacologia canabinóide e representantes de pacientes com experiência pessoal de canabinoides medicinais (representando a United Patients Alliance) foram selecionados e convidados a participar do processo de modelagem do MCDA.
Um subgrupo se reuniu em 9 de dezembro de 2019 para iniciar o processo de desenvolvimento do modelo de análise de decisão multicriterial (MCDA), para concluir seu trabalho em 1 dia, sugerindo que a condição médica deveria ser a dor crônica, com uma lista de medicamentos, incluindo produtos médicos à base de cannabis, usados para tratá-la. Esta visão geral preliminar da estrutura de um modelo MCDA foi enviada a todos os participantes antes da conferência de decisão, em janeiro de 2020.
Na conferência de decisão, os participantes revisaram os benefícios do subgrupo e os efeitos de segurança dos tratamentos médicos para CNP. Eles concordaram que o alívio da dor e a qualidade de vida eram os dois benefícios principais e acrescentaram mais sete efeitos de segurança.
O grupo considerou 12 farmacoterapias amplamente utilizadas nas síndromes de dor crônica. Três tipos diferentes de CBMPs, ou canabinóides, foram distinguidos: proporção 1:1 de tetrahidrocanabinol (THC): canabidiol (CBD), produtos dominantes em CBD e produtos dominantes em THC administrados por via oral ou por vias sublinguais. Os participantes avaliaram as farmacoterapias em relação umas às outras em escalas de 0 a 100, mais preferidos por seu valor clínico, e estes receberam uma pontuação arbitrária de 100. Os números maiores representam maior efetividade para os efeitos favoráveis, e melhor segurança para os efeitos desfavoráveis.
Resultados
Quando multiplicamos os valores de preferência pelos pesos de balanço correspondentes e somamos esses produtos para cada medicamento, temos os valores de referência ponderados gerais. Os valores abaixo no gráfico são referidos como benefícios e segurança porque representam as avaliações de entrada ponderadas separadamente para os dois benefícios e os 15 efeitos de segurança. A linha total inferior mostra a média ponderada das duas somas ponderadas em cada coluna. Maiores valores demonstram maior benefício e/ou segurança.
Os valores globais ponderados de preferência para as farmacoterapias da dor neuropática. Mais azul significa mais benefícios, mais vermelho indica mais segurança.
O THC/CBD 1:1 é o melhor entre os maiores benefícios, mas com menos segurança do THC, por um lado, ou os benefícios mais seguros, mas menores do CBD, por outro lado. Essas três drogas definem o que é conhecido como “fronteira eficiente”; não há droga melhor fora do sombreamento azul. No entanto, um exame minucioso revela uma característica única: THC/CBD e THC são melhores em benefícios e segurança do que todas as farmacoterapias não canabinóides.
Discussão
Esta é a primeira vez que os canabinoides medicinais foram submetidos a um modelo de análise de decisão multicriterial e comparados entre si e com outros medicamentos para dor neuropática, com base em balanços de benefício-segurança. Neste estudo, comparamos três opções de canabinóides e nove medicamentos não canabinóides por seus efeitos benéficos no alívio da dor e na qualidade de vida, contra sete efeitos adversos e oito efeitos adversos graves. Os resultados mostraram o melhor equilíbrio benefício-segurança, 79, para THC/CBD (1:1), e o pior equilíbrio para Fentanil, 33. A diferença de 46 pontos no desempenho é considerável, com cerca de dois terços da diferença contribuídos por melhor qualidade de vida e ausência de toxicidade por overdose e depressão respiratória.
A análise de dominância mostrou que duas opções de canabinóides, THC/CBD e THC, são mais benéficas e seguras do que qualquer uma das alternativas. No entanto, essa generalização só é válida ao nível dos benefícios combinados e efeitos de segurança combinados.
Os gráficos de benefício versus segurança mostraram que o THC/CBD permaneceu como a farmacoterapia preferida em amplas faixas de pesos no nó de segurança e nos efeitos individuais. Como isso surgiu de uma infinidade de perguntas e comparações, em vez de uma pontuação simples e direta, o domínio final no nível de benefício-segurança dos canabinóides sobre todos os outros medicamentos foi devido a melhor qualidade de vida, menos toxicidade por overdose, comprometimento cognitivo e menos perturbação no afeto.
Muitos pacientes com dor procuram atendimento médico precisamente porque a dor interfere em alguns ou em todos os aspectos de sua qualidade de vida. Neste estudo, a melhora na qualidade de vida foi considerada um dos principais alvos terapêuticos.
Este estudo revelou diferenças clinicamente relevantes nas classificações de eficácia e efeitos adversos para uma variedade de diferentes farmacoterapias usadas para dor neuropática. Os canabinóides gerais de THC/CBD, em uma proporção de 1:1, alcançaram a pontuação geral mais alta, seguidos por CBD dominante em 75, depois THC dominante em 72.
O impacto dos canabinóides na melhoria da qualidade de vida dos pacientes é cada vez mais reconhecido. Como se sabe que os canabinóides são opções relativamente seguras, certamente em comparação com outras substâncias usadas para o tratamento do CNP, eles devem ser incluídos no arsenal de especialistas clínicos, além de revelar novos insights e fornecer informações para orientar prescritores, formuladores de políticas e pacientes para complementar e aumentar o que está disponível nos dados de estudos clínicos disponíveis para o uso de canabionides medicinais administrados por via oral para CNP em adultos.
Referência:
Nutt DJ, Phillips LD, Barnes MP, Brander B, Curran HV, Fayaz A, Finn DP, Horsted T, Moltke J, Sakal C, Sharon H, O’Sullivan SE, Williams T, Zorn G, Schlag AK (2022) Uma análise de decisão multicritério comparando a farmacoterapia para dor neuropática crônica, incluindo canabinóides e produtos médicos à base de cannabis, Cannabis and Cannabinoid Research 7:4, 482–500, DOI: 10.1089/can.2020.0129.
