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Uso da cannabis medicinal no tratamento do Transtorno do Espectro Autista

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica identificada em crianças na infância, de 1 a 3 anos de idade, e que persiste na adolescência e na vida adulta. 

Estima-se que o autismo afeta uma a cada 160 crianças, comprometendo os relacionamentos sociais, a capacidade de comunicação, além de outras alterações comportamentais, como manias e ações repetitivas. Suas causas ainda são tema de debate dentro do meio científico, e o que se sabe é que a genética e fatores ambientais desempenham um papel importante para o desenvolvimento do transtorno.

As estratégias terapêuticas para TEA são bastante limitadas, sendo utilizados medicamentos para tratamento de sintomas associados ao transtorno, como a hiperatividade, agressividade, irritabilidade, ansiedade e distúrbios do sono [1].

A relação do sistema endocanabinoide com o TEA

O sistema endocanabinoide possui múltiplas funções em nosso organismo. Endocanabinoides endógenos, como a anandamida e o 2-araquidonoil glicerol (2-AG) são neuromoduladores que atuam em receptores canabinoides influenciando uma variada gama de comportamentos, como a função cognitiva, emoções, motivação e sistema de recompensa [2].

Estudos científicos sugerem que substâncias canabinoides podem possuir potencial terapêutico no tratamento de sintomas centrais e associados ao TEA.  

Evidências científicas pré-clínicas utilizando modelos animais de TEA, indicam que o aumento da atividade central da anandamida e 2-AG melhorou e aumentou as interações sociais nos roedores [3].

Além disso, a administração de fitocanabinoides em camundongos reduz significativamente a ansiedade e comportamentos compulsivos repetitivos [4]. Do ponto de vista clínico, alguns trabalhos relatam que uma parcela de crianças com TEA apresentam níveis plasmáticos mais baixos de anandamida [5].

A cannabis medicinal pode ser uma alternativa promissora?

Apesar do estudo da cannabis no tratamento do TEA ainda ser bastante incipiente, alguns ensaios clínicos demonstram que canabinoides derivados da planta poderiam ser alternativas promissoras para o tratamento dessa desordem.

Diversos estudos abertos e baseados em relatos de pais apontam certo sucesso no tratamento de seus filhos com uso da cannabis medicinal. As crianças parecem responder bem ao tratamento com a cannabis rica em CBD, sendo esta uma intervenção segura e eficaz [1].

Em um estudo duplo-cego controlado por placebo, pesquisadores testaram a eficácia de um extrato de cannabis rico em CBD para tratamento do TEA em crianças e adolescentes durante um período de três meses. Como resultados, foram encontradas melhoras nos principais sintomas do TEA durante o período testado, apresentando também boa segurança e poucos eventos adversos [6].

Novo estudo demonstra que a utilização de cannabis rica em CBD melhora sintomas em pacientes com TEA

Com o intuito de expandir o conhecimento acerca da utilização da cannabis para o tratamento do TEA, um novo estudo publicado este ano na revista Translational Psychiatry (grupo Nature, fator de impacto 6.222) avaliou de forma pioneira aspectos comportamentais clínicos em conjunto com o relato de pais de filhos com TEA [1].

A maioria dos estudos clínicos até então realizados, apenas levaram em conta os relatos dos pais quanto à melhora dos sintomas dos filhos. Neste novo trabalho, os cientistas quantificaram os efeitos do tratamento com cannabis rica em CBD na comunicação social, comportamentos restritos e repetitivos, comportamentos adaptativos e habilidades cognitivas, correlacionando os resultados clínicos com o relato dos pais [1]. 

Para isso, foram avaliados 82 pacientes (idades variando de 8 a 25 anos) em um estudo aberto para avaliar a eficácia de 6 meses de tratamento com cannabis rica em CBD. A comunicação social e comportamentos restritos e repetitivos foram quantificados usando o relato dos pais com a Escala de Responsividade Social e avaliação clínica com o Autism Diagnostic Observation Schedule. Também foram quantificadas as mudanças nos comportamentos adaptativos usando a escala Vineland e as habilidades cognitivas usando um teste de Wechsler apropriado para cada idade.

Neste estudo, foi utilizado um extrato de cannabis medicinal (infundido em óleo, proporção de CBD:THC 20:1). A dose diária foi de uma gota diária (0,3 mg de THC e 5,7 mg de CBD), com aumento gradual da dosagem à medida que fossem observadas melhorias comportamentais.

Pacientes apresentaram melhora na comunicação social

Foram constatadas melhoras em uma parcela dos participantes do estudo quanto às habilidades de comunicação social e socialização, principalmente em pacientes com sintomas iniciais graves. 

Estas melhorias foram encontradas tanto na Escala de Responsividade Social analisada de acordo com o relato dos pais, quanto nas escalas clínicas avaliadas no estudo. Não houve mudanças significativas quanto à avaliação cognitiva.

No entanto, é importante ressaltar que este estudo apresenta algumas limitações importantes. Por se tratar de um estudo aberto, não é possível excluir o viés de um possível efeito placebo.  

Além disso, a dose de cannabis foi ajustada de forma personalizada para cada participante, o que limita a avaliação da influência da dose quanto à eficácia do tratamento. Desse modo, estudos duplos-cegos controlados por placebo e que comparem diferentes doses são necessários para chegar a conclusões mais assertivas.

Apesar disso, estas são descobertas importantes que colocam a cannabis rica em CBD como uma alternativa promissora para o tratamento do TEA, principalmente quanto aos sintomas sociais e de comunicação. 

 

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Referências:

[1] Hacohen M, Stolar OE, Berkovitch M, Elkana O, Kohn E, Hazan A, Heyman E, Sobol Y, Waissengreen D, Gal E, Dinstein I. Children and adolescents with ASD treated with CBD-rich cannabis exhibit significant improvements particularly in social symptoms: an open label study. Transl Psychiatry. 2022 Sep 9;12(1):375. doi: 10.1038/s41398-022-02104-8

[2] Mechoulam R, Parker LA. The endocannabinoid system and the brain. Annu Rev Psychol. 2013;64:21-47. doi: 10.1146/annurev-psych-113011-143739

[3] Poleg S, Kourieh E, Ruban A, Shapira G, Shomron N, Barak B, Offen D. Behavioral aspects and neurobiological properties underlying medical cannabis treatment in Shank3 mouse model of autism spectrum disorder. Transl Psychiatry. 2021 Oct 13;11(1):524. doi: 10.1038/s41398-021-01612-3

[4] Simmons TC, Singh ALK, Bales KL. Effects of systemic endocannabinoid manipulation on social and exploratory behavior in prairie voles (Microtus ochrogaster). Psychopharmacology (Berl). 2021 Jan;238(1):293-304. doi: 10.1007/s00213-020-05683-w

[5] Karhson DS, Krasinska KM, Dallaire JA, Libove RA, Phillips JM, Chien AS, Garner JP, Hardan AY, Parker KJ. Plasma anandamide concentrations are lower in children with autism spectrum disorder. Mol Autism. 2018 Mar 12;9:18. doi: 10.1186/s13229-018-0203-y.

[6] Aran A, Harel M, Cassuto H, Polyansky L, Schnapp A, Wattad N, Shmueli D, Golan D, Castellanos FX. Cannabinoid treatment for autism: a proof-of-concept randomized trial. Mol Autism. 2021 Feb 3;12(1):6. doi: 10.1186/s13229-021-00420-2.