Desde a década de 1950, estudos sobre o uso de tratamentos psicodélicos assistidos contribuem, efetivamente, no processo de recuperação de vícios, traumas e outras doenças mentais.
Imagine que, de repente, você acorda e descobre que os cogumelos mágicos e os MDMA não são, apenas, drogas psicodélicas estimulantes, que provocam euforia, mas são poderosos medicamentos utilizados nos tratamentos psicodélicos assistidos, para tratar uma ampla gama de condições da saúde mental.
É isso mesmo! O modelo de psicoterapia assistida por psicodélicos é um modo fundamentalmente novo de tratamento da saúde mental e consiste na combinação indissociável, entre medicação e terapia.
Os resultados dos tratamentos psicodélicos assistidos são alcançados, a partir do uso de medicamentos, que possuem, como princípio ativo, alguma substância que atua nos neurotransmissores do cérebro e apresenta caráter estimulante, além do acompanhamento com psicoterapia, conhecido por Psicoterapia Psicodélica Assistida.
Esse recurso terapêutico ocasiona mudanças intensas no comportamento e alguns cientistas acreditam que ocorrem mudanças na parte física do cérebro, quando estimulam o sistema de serotonina, pois parecem acalmar a rede de modos padrão do cérebro (responsável pela repetição dos padrões de pensamento) e estimulam a criação de novas vias neurais (plasticidade neural).
As pesquisas científicas mostram que os aspectos fisiológicos e psicológicos do tratamento são tão integrados, que são quase impossíveis de separar. Por isso, o objetivo dos tratamentos psicodélicos assistidos é identificar as mudanças físicas que ocorrem no cérebro, a partir do uso terapêutico das drogas psicodélicas e, pelo acompanhamento da psicoterapia, observar os efeitos que ajudam as pessoas a melhorar.
Algumas terapias alternativas podem estimular resultados compatíveis com os obtidos pelos tratamentos psicodélicos assistidos, como no caso de uma sessão de meditação, que também pode acalmar a rede de modo padrão ou uma atividade física intensa, que pode aumentar a atividade da serotonina, ou ainda, o cheiro da cocaína, que pode provocar alguns tipos de plasticidade neural.
No entanto, em comparação com essas terapias alternativas, observou-se que os efeitos clínicos positivos, que tornam os tratamentos psicodélicos assistidos tão promissores, podem ser alcançados em curto prazo e são observados, desde a primeira sessão de psicoterapia psicodélica assistida.
Um dos estudos realizados concentrou-se em um tipo específico de neuroplasticidade no córtex pré-frontal. O neurocientista químico, PhD, David E. Olson, responsável pelas pesquisas, acredita que os tratamentos psicodélicos assistidos estimulam um tipo de crescimento neural e essa pode ser a causa da melhora significativa, em pessoas com uma ampla variedade de doenças mentais, como depressão, ansiedade e Perturbação de Stress Pós-Traumático (PTSD).
A partir dos estudos com tratamentos psicodélicos assistidos, o laboratório da UC Davis desenvolveu diversos medicamentos com potencial estímulo desse tipo de crescimento neural, sem causar os efeitos estimulantes e entorpecentes, que são regularmente associados às drogas alucinógenas habituais.
A boa notícia é que o desenvolvimento desses medicamentos está na fase final de testes, que são os estudos adicionais de segurança e a etapa seguinte será o teste de dois desses compostos em humanos.
O uso de medicamentos terá a função de preparar o cérebro para ser capaz de reorganizar e ajustar o significado de uma memória traumática ou padrão de pensamento doentio.
Logo após a interação medicamentosa iniciam-se os tratamentos psicodélicos assistidos, que precisam ativar a memória, ou memórias certas, em um ambiente seguro e apropriado e com um psicoterapeuta especializado nesse tipo de terapia.
Simplificando…
Nos tratamentos psiquiátricos convencionais, são utilizadas diferentes drogas psiquiátricas, para tratar, individualmente, cada condição. Por exemplo:
– A Metadona tem como alvo os receptores opiáceos específicos, para ajudar a prevenir os sintomas de abstinência do vício em heroína;
– A Vareniclina se liga aos receptores de nicotina, para reduzir o desejo por cigarro.
– Os ISRSs (medicamentos antidepressivos) tornam mais serotonina disponível, para melhorar a mensagem das células cerebrais.
Porém, nos tratamentos psicodélicos assistidos, uma única droga atua da mesma maneira para tratar, simultaneamente, uma ampla gama de condições de saúde mental e os efeitos, geralmente, duram muito além dos efeitos agudos da medicação.
Como foi a pesquisa científica com os tratamentos psicodélicos assistidos?
Um dos estudos, inicialmente, envolveu 15 participantes e, cerca de 80% das pessoas submetidas aos tratamentos psicodélicos assistidos estavam sem fumar após 6 meses. Por outro lado, os tratamentos convencionais, que requerem muito mais tempo ou medicação contínua, em geral, apresentam resultados em torno de 20%, após 6 meses.
Desde então, muitos ensaios clínicos, envolvendo os tratamentos psicodélicos assistidos, mostraram grande promessa para o tratamento de uma ampla gama de problemas de saúde mental, como: PTSD, depressão, alcoolismo, TOC e vício em cocaína.
O que sabemos, com certeza, sobre a maneira como funcionam os tratamentos psicodélicos assistidos?
Os aspectos fisiológicos e psicológicos do tratamento são tão integrados, que são quase impossíveis de separar e as terapias psicodélicas parecem mudar a consciência de uma maneira única.
As evidências obtidas nas pesquisas com tratamentos psicodélicos assistidos demonstraram que, especialmente para PTSD, vício e depressão, acompanhados, obrigatoriamente, da supervisão médica e da psicoterapia, os resultados alcançados foram altamente promissores.
Os tratamentos com psicodélicos, quando forem aprovados pelo FDA, farão parte dos tratamentos psicodélicos assistidos, para problemas graves de saúde mental e exigirão supervisão extensiva e suporte terapêutico.
Afinal, quais os riscos e efeitos colaterais?
Os riscos físicos são mínimos, desde que a dosagem seja prescrita individualmente, após análise clínica, e ministrada sob a supervisão do médico e acompanhada pelo psicoterapeuta. É importante ressaltar que, em tratamentos psicodélicos assistidos, é fundamental o acompanhamento terapêutico e devem ser observadas as indicações para pacientes com comorbidades.
Os possíveis efeitos colaterais, comumente relatados nos estudos científicos, incluem dores de cabeça leve a moderada, náusea, fadiga, perda de apetite e insônia. Porém, em geral, eles não duram muito mais do que os efeitos das próprias drogas.
CONCLUSÃO
Importante ressaltar que os psicodélicos não são substâncias Legais. Nos EUA, o FDA só autorizou o uso da Psilocibina ou o MDMA nos ensaios clínicos, em laboratório.No Brasil, as substâncias psicodélicas são controladas pela ANVISA e não é permitido isolar ou sintetizar essas substâncias.
Estudos adicionais com os tratamentos psicodélicos assistidos podem descobrir outros riscos e efeitos colaterais mais sérios, além de apontar qual grupo de pacientes têm maior probabilidade de manifestação.
Fonte: https://www.webmd.com/mental-health/story/how-do-psychedelic-treatments-work